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Entre os convidados, o professor da USP Jacques Marcovitch propôs reflexões sobre o estudo realizado na cidade e soluções para o saneamento na vida das famílias manauaras
Nas margens dos igarapés, as residências nas áreas alagadiças em Manaus são conhecidas por palafitas. Quando se tem muro de arrimo com concreto ensacado, eles são os rip-rap e em ruas muito estreitas, os becos. Em Manaus, são nessas áreas de vulnerabilidade que parte da população de menor poder aquisitivo vive, nem sempre assistidas pelo poder público, mas com grandes desafios para mudança de realidade. “A Transformação na vida das pessoas por meio do Saneamento” foi o tema do seminário que reuniu especialistas e autoridades sobre o assunto, realizado pelo Instituto Trata Brasil na manhã desta terça-feira (21), na sede da concessionária Águas de Manaus.
O seminário foi o desdobramento dos dados obtidos junto ao projeto “Trata Brasil na Comunidade: Avaliação dos benefícios do saneamento básico em comunidades socialmente vulneráveis de Manaus”. A pesquisa, realizada entre os meses de junho e julho deste ano, revela a satisfação de moradores de áreas vulneráveis nos bairros Compensa, Redenção e Cachoeirinha, quanto a qualidade de vida e condições de saúde, antes e depois da chegada do abastecimento de água tratada.
Para 97% dos moradores entrevistados a chegada da água tratada trouxe mais saúde e dignidade. Tanto que, 93% dos entrevistados estão satisfeitos com o serviço ofertado. Quanto à confiança na qualidade da água entregue às moradias o número subiu para 81%, antes era de 45%. E o número de ligações clandestinas, que era a forma que se abasteciam, caiu para zero.
Após a apresentação dos dados, o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, enfatizou a importância da metodologia utilizada para um estudo mais completo, tendo em vista o processo de formação dos próprios pesquisadores que foram comunitários, que receberam treinamento específico para coletar os dados em suas áreas de moradia.
“Nossa pesquisa foi feita em parceria com lideranças comunitárias da cidade, pessoas que moram aqui e são daqui, e conquistamos com isso, maior representatividade. Irmos à comunidade e falar com as pessoas nos dá a chance de captar a percepção delas entre o antes e o depois da chegada da água tratada, é real e concreto, e os dados nos mostram isso”, disse.
Entre os convidados para o seminário esteve o professor doutor Jacques Marcovitch da Universidade de São Paulo (USP), que participou, via internet, e ponderou sobre os resultados do estudo, apresentando alternativas aos desafios que surgiram com os dados.
“Podemos ver a seriedade do trabalho e os desafios do estudo feito pelo Trata Brasil. Estamos vivendo grandes crises e as respostas para algumas delas passam pelo Objetivo de Desenvolvimento Social 6 – que foca no apoio e fortalecimento da participação das comunidades locais para melhorar a gestão de água e saneamento. E aí estão nossos desafios: a continuidade nas políticas públicas; em inovação, com a utilização de novas tecnologias para encontrarmos formas de solução; e, a corresponsabilidade entre os setores e os órgãos fins. Também proponho que se crie um conselho, onde a sociedade seja inserida para integração e discussões acerca do saneamento”, ressalta.
Segundo Wilson Périco, presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), que também compôs a mesa no seminário, as empresas, em muitos casos estão em débito com o meio ambiente. “Ao produzirmos água e tratarmos efluentes, assumimos um passivo com o meio ambiente. Temos um custo intangível nas costas e se houver qualquer problema, o empresariado tem de arcar. E esse é um desafio que temos, em tratar na assertividade e proteção do meio ambiente para reviveremos tempos de outrora”, pontua.
OLHAR DIFERENCIADO – O estudo retrata o trabalho da concessionária, principalmente nas regiões mais vulneráveis da cidade. Segundo o diretor-presidente da Águas de Manaus, Thiago Terada, os dados são compatíveis o trabalho que tem sido desenvolvido pela empresa, para beneficiar as famílias que vivem em regiões de vulnerabilidade.
“Estamos atuando apara levar rede de água pra comunidades que nunca tiveram, e isso é muito importante pra mostrar o avanço que isso ocorre na vida das pessoas. Então, quando a gente consegue levar água de qualidade e de substituir, muitas vezes, uma água que não era boa, isso faz com que todos os índices de saúde melhorem e a população consiga ter acesso a uma água tratada. Garantimos, por exemplo, que a pessoa possa tomar um banho e isso tudo dentro de uma condição financeira que a pessoa possa pagar. A gente avança com o saneamento e também com a Tarifa Social”, disse.